terça-feira, 30 de junho de 2015

Persistência.

Sempre aconselhei a mãe que luta para ter um filho a não desistir, a persistir, a continuar a lutar....
Muitas vezes isto pareceu jogar palavras ao vento, mas quem me conhece sabe que não faço isto, eu apenas digo o que realmente penso.
E foi assim que eu fiz....lutei...perdi....chorei....me desesperei....fui ao chão....levantei...enxuguei as lagrimas....lutei.....perdi....o chão se abriu....sucumbi.....gritei...briguei....mudei muita coisa....rompi....recomecei....adquiri coragem...e mais uma vez fui a luta.....muito medo....muita angustia....mas deu certo...
E é assim que penso e é assim que sempre incentivo a todas....Desisti jamais!
Só não consegue quem desiste!
Sempre vai ter um jeito...
Esta semana particularmente me vi novamente com um super sorriso nos lábios ao saber de uma nova gravidez muito desejada, muito esperada....e a alegria deste casal é também a minha alegria.
Por isto sempre vou dizer...vá em frente..sem medo...e se perder levante e comece de novo...
Odete

sexta-feira, 19 de junho de 2015

Não é um problema isolado

Muitas vezes as pessoas não querem falar, não comentam, evitam se abrir para não escutar comentários dolorosos (e ficam isoladas em seu luto). Mas a perda gestacional infelizmente é algo comum, provavelmente todo mundo conhece alguém que já passou por isso. A reportagem abaixo, da jornalista Isabela de Oliveira, do Correio Brasiliense,  publicada AQUI, mostra alguns índices, e destaca que a falta de informação é uma das maiores fontes de sofrimento emocional. “Os resultados de nossa pesquisa indicam equívocos generalizados. Por ser um problema muito comum, mas raramente discutido, muitas mulheres e casais se sentem isolados e sozinhos. Precisamos educar as pessoas, pois isso poderia nos ajudar a reduzir a vergonha e o estigma associados a ele”, diz Zev Williams, diretor do Programa para a Perda de Gravidez Precoce e Recorrente (Pearl, na sigla em inglês), da Universidade Yeshiva, em Nova York.


Confira a íntegra do texto:


Apesar de muito comum, aborto espontâneo ainda é visto como algo raro

Com incidência em 20% das gestações, ainda é motivo de grande angústia para mulheres e casais


Abortos por causas naturais são a complicação mais recorrente durante a gravidez, acometendo de 15% a 20% das gestações clinicamente reconhecidas no mundo. Os índices significam que, todos os anos, de 750 mil a 1 milhão de mulheres sofrem com o problema. Não é algo, portanto, raro. Apesar disso, o incidente ainda causa muita angústia e costuma ser encarado com constrangimento pelas mulheres, mesmo que o ocorrido seja dividido apenas com familiares e amigos.
Uma pesquisa com mais de mil adultos norte-americanos recentemente concluída dá uma boa ideia dessa realidade. A maioria dos participantes erroneamente respondeu que perder o bebê, como se diz popularmente, é algo raro, que ocorreria em menos de 6% das gestações. Essa falta de informação, segundo o coordenador do estudo, Zev Williams, é fonte de sofrimento emocional. “Os resultados de nossa pesquisa indicam equívocos generalizados. Por ser um problema muito comum, mas raramente discutido, muitas mulheres e casais se sentem isolados e sozinhos. Precisamos educar as pessoas, pois isso poderia nos ajudar a reduzir a vergonha e o estigma associados a ele”, diz Williams, diretor do Programa para a Perda de Gravidez Precoce e Recorrente (Pearl, na sigla em inglês), da Universidade Yeshiva, em Nova York. Os resultados foram publicados na revista Obstetrics & Gynecology.

Segundo João Steibel, presidente da Assistência ao Abortamento, Parto e Puerpério da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo), os equívocos não se restringem à população norte-americana. No Brasil, também são comuns. “Nessa hora, a gente precisa explicar que é comum, que acontece quando o corpo se dá conta de que não dá para levar adiante a gestação”, afirma o brasileiro. Uma mulher que tem três filhos, conta o médico, provavelmente passará por um aborto natural. “Não sabemos exatamente o que o causa. É a seleção natural. Costuma ocorre com seis a oito semanas (de gestação), e, a cada cinco grávidas, uma aborta.”

Solidão
A técnica em radiologia Neuma Lopes, 50 anos, é uma das milhares de mulheres que já viveram a experiência. Passadas mais de duas décadas, ela consegue falar sobre o assunto com tranquilidade. “Comecei a sentir dores e achei que menstruaria. Fui ao médico e nós tentamos de tudo, como repouso, colocar as pernas para cima, mas não deu certo”, lembra. “Fiquei muito triste e me afastei do trabalho durante duas semanas. Deu a sensação de que era um castigo e que eu não ia mais engravidar”, conta Neuma. Apesar disso, ela não desistiu e se tornou mãe de três filhas saudáveis, hoje com 24, 20 e 15 anos.

Os resultados do estudo americano, feito em parceria com o Montefiore Medical Center, mostram que os sentimentos de culpa e vergonha são muito comuns após um aborto. Entre homens e mulheres que declaram ter vivenciado a situação, 47% sentiram-se culpados, 41% acharam ter feito algo errado, o mesmo índice relatou a sensação de solidão e 28% admitiram sentir vergonha. Apenas 45% contaram ter recebido apoio emocional adequado da comunidade médica.

Neuma conta que, felizmente, foi tranquilizada pelo médico que a atendia. “Se acontecer com você, tente novamente, procure ajuda. Depois disso, tive três filhas lindas”, aconselha a técnica em radiologia. João Steibel faz coro: “Não tem a ver com a condição física da mulher, mas sim com os próprios mecanismos da gravidez. É uma coisa natural, que faz parte do jogo. O casal fica triste, mas é assim mesmo”.

Por isso, Zev Williams reforça que os pais, especialmente os de primeira viagem, devem obter o máximo de informação. “O aborto natural é um assunto tradicionalmente tabu, que raramente é discutido publicamente. Queremos que as pessoas que passam por isso saibam que não estão sozinhas. As interrupções são muito comuns e há testes disponíveis para ajudá-las a saber o que causou o incidente”, acrescenta. Oitenta e oito por cento das pessoas que participaram do estudo gostariam de saber a causa do incidente e se algo poderia ser feito para evitá-lo. Delas, 78% iam querer a informação mesmo que nada pudessem fazer para evitar um novo aborto no futuro.

Percepções erradas
Para fazer uma radiografia de como os casais percebem o tema, Williams e colegas elaboraram um questionário de 33 itens, sendo que 10 deles eram direcionados especificamente para mulheres que tinham passado pela experiência ou homens cujas companheiras tinham tido uma interrupção na gestação. O levantamento foi feito pela internet para manter o anonimato e todos os participantes tinham mais de 18 anos. Das 1.084 participações consideradas válidas, recolhidas ao longo de três dias em 2013, 45% eram de homens e 55%, de mulheres. Quinze por cento das pessoas relataram que elas próprios ou os parceiros tinham sofrido um aborto espontâneo.

Os resultados revelaram outras percepções erradas a respeito do aborto natural. Para 22% dos respondentes, por exemplo, o estilo de vida durante a gravidez — como fumar, usar drogas ou álcool — é a principal causa, superando fatores genéticos ou médicos. E participantes menos instruídos, sem ensino superior, especialmente os homens, eram duas vezes mais propensos a acreditar que o comportamento da mãe é crucial. E mais de 70% dos homens e mulheres também apontavam um evento estressante ou o estresse de longa duração como uma das maiores causas.

Kelly Paim, do Centro Wainer de Psicologia Cognitiva, em Porto Alegre, explica que aspectos emocionais influenciam na gravidez, mas não são determinantes para que a gestação seja bem-sucedida. “Quanto mais ansiosos ficamos, maior é a produção de cortisol. Mas a ansiedade não prejudica a ponto de determinar ou não uma gravidez”, explica a especialista em casais e família. Outras causas apontadas para o aborto, mas que não correspondem a realidade foram: levantar objetos pesados (64%), doenças sexualmente transmissíveis (41%), uso passado de um dispositivo intrauterino (28%) ou anticoncepcionais orais (22%).
Luto
Pesquisas anteriores indicaram que os níveis de dor psicológica que uma mãe sente ao sofrer um aborto espontâneo são semelhantes à perda de um familiar. Os resultados de Williams reforçam a constatação: 36% dos participantes, incluindo os que nunca viveram a experiência, relataram que sofrer um aborto seria extremamente perturbador, o equivalente a perder um filho.

Nem todos, contudo, têm a mesma sensação. Rosângela Nascimento Paixão, 38 anos, é um exemplo disso. “Eu acho que é diferente porque, por mais que sentisse o bebê mexer, não estava presente, convivendo comigo”, conta sobre as interrupções que vivenciou nas duas primeiras gestações. Hoje mãe de Victor, 5 meses, ela não vê motivos para sentir vergonha. “Sempre confiei em Deus e recebi muito apoio dos amigos, da família e da igreja. E isso me ajudou a superar”, conta. “Hoje, só tenho motivos para agradecer e dizer a outras mães que passaram por situações assim que tenham esperança e não se entreguem”, prossegue Rosângela, que busca ajuda mulheres que passaram pela experiência recentemente. “Explico para elas que é normal, e que elas devem conversar com os médicos sobre isso, mas sem se preocupar.”

Esse conhecimento foi valioso para Andressa de Menezes Silva Pereira, 29 anos, mãe de Enzo Netuno Silva Pereira, 1 ano e 2 meses, de quem ela engravidou pouco depois de passar por um aborto espontâneo. “Tive um sangramento e corri para o hospital. A médica disse que não havia batimentos cardíacos e que meu corpo expulsaria o bebê naturalmente”, lembra. Não foi o que aconteceu, porém, e ela precisou passar pelo procedimento de curetagem, que é a remoção do feto pelo médico.

A história, ela observa, não deve deixar outras mães temerosas. “Nem todo aborto espontâneo tem complicações, e é bom frisar isso. Eu tive essa falta de sorte. Fora isso, meu médico conversou bastante comigo e me disse que é algo comum. Às vezes, a pessoa perde sem nem saber que estava grávida, e esse esclarecimento me tranquilizou”, conta Andressa, formada em letras. O apoio de Celso Daniel, o marido, fez toda a diferença. “Não temos familiares no Distrito Federal, sou de Sergipe e ele da Bahia. Por isso, ele sempre foi meu porto seguro”, diz, assegurando que pretende ter mais um filho. “O pré-natal é fundamental. As mulheres devem procurar um excelente obstetra, pois, pelo menos para mim e para minha superação, foi essencial. Meu médico teve um papel muito importante.”

As reais causas
A grande maioria (60%) dos abortamentos resulta da aneuploidia, que é a alteração na quantidade dos pares de cromossomos. Quando a combinação dos 23 cromossomos da mãe e dos 23 do pai não se “encaixa”, então a gestação é naturalmente interrompida. Outras causas comuns são anormalidades estruturais do útero, propensão ao desenvolvimento de trombose (trombofilia), transtornos hormonais e doenças autoimunes.

terça-feira, 16 de junho de 2015

Algo muito importante para quem esta tentando engravidar:-
- Tome acido fólico, ele vai proteger seu bebe de anencefalia e da espinha bifida, leia aqui (http://portal.cfm.org.br/index.php?option=com_content&id=24374:saude-da-mulher-e-da-crianca-cfm-recomenda-o-uso-de-acido-folico-para-gestantes), mas converse com seu ginecologista para que este te indique  dosagem correta. E atenção, ele precisa ser usado antes de engravidar.
- Verifique seu tipo sanguíneo antes de tentar engravidar, seu e de seu parceiro, mulheres com RH negativo (euzinha aqui) precisam tomar a vacina após a gravidez ou aborto.
São pequenas dicas valiosas.
Abraços
Odete

sexta-feira, 12 de junho de 2015

Problemas de tireoide interferem na fertilidade

Eu tenho hipotireoidismo e sabia disso desde os 20 e poucos anos... mas por desinformação e por ter sido mal orientada, não tomava meu medicamento de forma contínua. Não sei dizer se isso contribuiu para minhas perdas gestacionais, mas só comecei a tomar o T4 (hormônio tireoidiano) após a segunda perda, e depois disso tive dois filhos.
As duas crianças fizeram o teste do pezinho no hospital e nada foi detectado na tireóide. Mas aos seis anos, meu filho foi também diagnosticado com hipotireoidismo, e desde então toma o medicamento diariamente. Minha filha por enquanto não desenvolveu. O uso do medicamento é indicado inclusive durante o período de amamentação.
Segue matéria para alertar futuras mães sobre os riscos de não controlar sua tireóide. 

Rose Guidoni

Problemas de tireoide interferem na fertilidade das mulheres

De acordo com a Fundação Americana de Tireoide, há cerca de oito milhões de mulheres nos Estados Unidos com distúrbios da tireoide não tratados. Calcula-se que de 4% a 8,5% da população feminina tenha problemas de tireoide sem sintomas aparentes. Nas pacientes inférteis essa prevalência é ainda maior. Para aquelas em idade reprodutiva, as perturbações menstruais, a infertilidade e o aborto espontâneo podem ser o primeiro sinal de que algo está errado. Com um pouco de atenção por parte do médico, as mulheres com funcionamento deficiente ou excessivo dessa glândula podem ter seus problemas corrigidos, evitando a infertilidade e as falhas dos tratamentos de fertilização, obtendo gestações normais e bebês saudáveis.
A autoimunidade para tireoide é a mais comum manifestação autoimune nas mulheres, afetando entre 5-20% das mulheres em idade reprodutiva, 15-20% das gestantes normais, 20-25% das mulheres com abortos de repetição e 20% das mulheres submetidas a fertilização in vitro (FIV). Ela também é a principal causa do hipotireoidismo e pode permanecer sem se manifestar por anos. É caracterizada pela presença dos anticorpos antitireoperoxidase (Anti-TPO) e/ou o Anticorpo Antitireoglobulina (Anti-TG), com ou sem disfunção tireoidiana.
“Há uma forte correlação entre autoimunidade para tireoide e outras causas de infertilidade, como endometriose, síndrome dos ovários policísticos (SOP) e falência ovariana precoce (FOP). Pode estar presente em até 25-40% das mulheres inférteis com endometriose, e as mulheres com SOP têm um risco até três vezes maior de apresentá-la. Quanto ao rastreamento, não há consenso entre os endocrinologistas. Alguns defendem que seja de rotina para todas as mulheres, outros somente em grupos de risco”, explica o especialista em reprodução humana Arnaldo Cambiaghi, diretor do Instituto Paulista de Ginecologia e Obstetrícia em São Paulo.
HIPOTIREOIDISMO CLÍNICO E SUBCLÍNICO
Hipotireoidismo é definido como a ocorrência de valores de T4 livre abaixo do normal (< 0,6 ng/dL) e TSH elevado (>5 mUI/L). Caracteriza-se por sintomas bem evidentes, como constipação, fluxo menstrual aumentado, ganho de peso, diminuição do apetite, letargia, depressão, problemas cognitivos, fadiga, pele seca, intolerância ao frio ou dores musculares. Algumas mulheres com disfunção da tireoide podem ainda apresentar níveis elevados de prolactina, prejudicando ainda mais a fertilidade.
“Existe uma situação chamada hipotireoidismo subclínico, quando as alterações hormonais são discretas, apresentando T4 livre ainda em nível normal e TSH elevado (>5 mUI/L), e os sintomas são sutis, como a infertilidade, abortos repetidos ou simplesmente dificuldade em perder peso”, avalia o médico.
TIREOIDE E GESTAÇÃO
A gravidez per se altera profundamente a função tireoidiana. No seu início, os elevados níveis de gonadotrofina coriônica provocam uma reação cruzada com o receptor do TSH estimulando-o, provocando um aumento do T4 livre e umadiminuição do TSH. Além disso, os níveis crescentes de estradiol aumentam os níveis da globulina ligadora de hormônio tireoidianos, diminuindo a fração livre do hormônio e fazendo com que a glândula trabalhe mais. Outro fato que pode agravar o quadro é o aumento do clearance renal, diminuindo o iodo disponível para o organismo.
Não há consenso entre as sociedades de especialidades em relação a conduta quanto ao rastreamento universal de disfunções da tireoide para grupos de gestantes de baixo risco. Dr. Arnaldo frisa que as pacientes de alto risco devem sempre ser rastreadas com TSH no início do pré-natal. Nesse grupo incluem-se as que têm idade superior a 30 anos, história familiar de hipotireoidismo, doenças autoimunes, uso de amiodarona ou lítio, com radiação cervical, sintomas ou sinais de hipotireoidismo.
“O importante é saber que disfunção tireoidiana não tratada na gestação pode acarretar sequelas ao feto e intercorrências durante a gestação. Isso deve ser considerado quando se determinar a estratégia de rastreio. Em relação ao feto, é bem estabelecido que a presença de hipotireoidismo na gestação afeta o seu desenvolvimento neuropsicológico, reduzindo o seu QI. Em relação ao hipotireoidismo subclínico alguns estudos apontam para uma redução do QI em relação aos controles, porém ainda não há um consenso na literatura”, diz o médico.
Na gravidez, a Sociedade Americana de Endocrinologia define o cut-off de 2,5 mlU/l para o valor do TSH no primeiro trimestre da gestação. Mesmo assim ainda não há consenso entre todas as sociedades de Endocrinologia sobre se é adequado tratar com levotiroxina todas as gestantes que estejam acima desse cut-off ou somente aquelas que também apresentam auto-anticorpos. Alguns estudos mostram que mulheres com TSH entre 2,5 e 5,0 mlU/l e anticorpo anti-TPO têm um risco maior de complicações obstétricas como aborto e parto prematuro, quando comparadas com as sem disfunção tireoidiana e as com disfunção porém em uso de levotiroxina. Mesmo as sem anticorpos positivos apresentam um maior risco de perda gestacional comparadas às eutiroideas.
Já o hipertireoidismo na gestação também está associado a resultados adversos. Ele pode levar a restrição de crescimento intrauterino, pré-eclâmpsia, parto prematuro, baixo peso, perda fetal e insuficiência cardíaca congestiva materna. A droga mais usada é o Propiltiuracil, já que o Metimazole está associado a um risco maior de malformações quando utilizado no primeiro trimestre.
TIREOIDE E INFERTILIDADE
A presença dos auto-anticorpos contra a tireoide por si só pode alterar o ambiente reprodutivo, mesmo que eles se apresentem sem nenhuma disfunção tireoidiana. É sabido que as mulheres inférteis têm uma prevalência maior de auto-anticorpos contra a tireoide, independentemente da causa da infertilidade. Eles podem alterar o feedback hipofisário por alterar a ligação entre o estrogênio periférico com a globulina ligadora de esteroides sexuais (SHBG). Além disso, o aumento do TSH e do hormônio liberador de tireotrofina (TRH) em resposta ao hipotireoidismo pode levar a uma hiperprolactinemia com consequente disovulia por alteração da pulsatilidade do hormônio liberador de gonadotrofinas (GnRH).
Dr. Arnaldo Cambiaghi conta que também há um efeito direto sobre o aparelho reprodutor: “Os hormônios tireoidianos têm receptores nas células da granulosa e no cumulus ooforus, desempenhando um importante papel tanto na fertilização como no desenvolvimento inicial do embrião. Os próprios anticorpos anti-tireoide podem desencadear uma reação cruzada com a zona pelúcida e com os receptores de hCG e TSH. Inclusive, esses auto-anticorpos podem inibir a ação do hCG no corpo lúteo, com consequente declínio da produção de progesterona e estrogênio no início da gestação”.
Mesmo apresentando um estado de eutiroidismo, a presença de autoimunidade para tireoide por si só pode estar associada com uma deficiência súbita nos hormônios tireoidianos ou uma resposta inadequada frente aos incrementos dos níveis de estrogênio circulante.
Por outro lado há também mecanismos independentes do funcionamento da tireoide e que são consequência da resposta imune inata e humoral inadequada, como a incidência maior de deficiência de vitamina D, a reação cruzada dos anticorpos anti-tireoide com outros sítios e a ocorrência elevada de outras doenças autoimunes. Em relação à resposta imune inadequada em pacientes com autoimunidade para tireoide, sabemos que há alterações tanto quantitativas como qualitativas nas células T endometriais, com consequente desbalanço de citocinas. Ao mesmo tempo, há uma ativação de2 a 3 vezes mais frequente de linfócitos B, que pode afetar negativamente tanto a fertilidade como a gravidez, por se ligarem ao tecido trofoblástico e induzir um estado pró-trombótico e uma ativação da cascata do complemento.
“A hiperatividade e o aumento em número das células natural killers (NK) no endométrio é um fator que colabora para o aumento de infertilidade nessas mulheres e é 40% maior nelas do que em controles. Há também um aumento da incidência de anticorpos antifosfolípides e endometriose nessas mulheres, que devem ser investigados. Do mesmo modo que mulheres com endometriose também devem ter os seus anticorpos mensurados, pois durante o estímulo para FIV elas podem apresentar uma deficiência súbita do hormônio tireoideano, podendo levar a um aborto”, alerta o médico.
ESTIMULAÇÃO OVARIANA
Durante o processo de estimulação ovariana, há uma piora do quadro de hipotireoidismo, já que o aumento dos níveis de estradiol circulantes provoca um aumento da globulina ligadora dos hormônios tireoidianos, com consequente menor quantidade de hormônio tireoidiano na sua fração livre.
Já se sabe que os valores de TSH, T4 livre e dos anticorpos se alteram durante o período de estimulação ovariana. O TSH se eleva ao longo do processo, atingindo o pico no dia da administração do hCG. Em um estudo recente, 40% das mulheres que tinham um TSH < 2,5 no início da estimulação tiveram seu valor aumentado para acima do cut-off ao término do estímulo.
Também há relatos de encontro desses anticorpos no fluido folicular de pacientes submetidas a FIV, atingindo uma concentração de 50% da encontrada no sangue. Talvez eles atrapalhem o amadurecimento e a qualidade desses oócitos, impactando no sucesso do tratamento. Vários estudos sustentam a ideia de que a autoimunidade para tireoide não influencia a taxa de implantação, apesar de ter sido demonstrado que mulheres com falhas de implantação apresentam uma incidência maior desses anticorpos do que as que fizeram controles com infertilidade.
Além disso, eles aumentam o risco de aborto espontâneo em três a cinco vezes, mesmo nas pacientes que não apresentam disfunção tireoidiana.
A fisiopatologia desses abortos permanece incerta e inclui vários mecanismos. Os mecanismos tireoide dependentes podem ser a deficiência súbita do hormônio ou uma resposta inadequada em um momento de hiperestrogenismo provocado pela hiperestimulação ovariana e pela gravidez.
TRATAMENTO
Uma meta-análise concluiu que há evidências para o tratamento de mulheres com hipertireoidismo, hipotireoidismo clínico e autoimunidade contra a tireoide durante a gestação, com melhora do prognóstico fetal. Porém, não houve uma associação entre o tratamento do hipotireoidismo subclínico sem anticorpos e o prognóstico da gravidez, não havendo consenso entre as sociedades de tireoide sobre a necessidade de tratamento nesses casos. Diante de tudo o que foi exposto, para pacientes que desejam engravidar, o IPGO recomenda:
• se já fazem uso de levotiroxina por hipotireoidismo instalado, manter níveis de TSH abaixo de 2,5 mlU/L;
• na presença de auto-anticorpos, levotiroxina deve ser introduzida se TSH>2,5 mlU/L, mantendo TSH abaixo deste valor. Mesmo que o mecanismo seja imunológico, parece que o maior prejuízo se dá pela deficiência súbita de hormônio, portanto a sua reposição, por ser simples e eficiente, é a estratégia mais recomendada, levando a uma redução de até 19% na chance de aborto e de 15,4% de parto prematuro em relação às mulheres não tratadas;
• no casos de hipotireoidismo subclínico (TSH>5 mUI/L), independentemente da presença de auto-anticorpos, deve ser introduzida levotiroxina, apesar de não ser consenso.
CONCLUSÕES
A gestação e a estimulação ovariana provocam um grande impacto na fisiologia da glândula tireoide. As mulheres inférteis devem ser rastreadas para disfunções tireoidianas, especialmente as com endometriose e SOP. Quando a disfunção é detectada, o tratamento com levotiroxina é capaz de devolver a fertilidade, reduzindo a necessidade da FIV.
Apesar da presença de auto-anticorpos sem hipotireoidismo não comprometer a taxa de gravidez, ela aumenta sensivelmente o risco de aborto tanto nas gestações espontâneas como nas após a FIV.
“Em resumo, as mulheres inférteis constituem um seleto grupo de pacientes para as quais o rastreio de rotina para alterações tireoidianas deve ser realizado, mesmo que ainda haja controvérsias sobre o tratamento em pacientes eutiroideas. As mulheres que se submeterão a FIV devem ter um rigoroso controle da sua função tireoidiana, já que a estimulação ovariana a afeta diretamente e devem ser monitoradas rotineiramente durante a estimulação e no início da gravidez”, encera Dr. Arnaldo Cambiaghi.

Sobre Arnaldo Schizzi Cambiaghi

Especialista em medicina reprodutiva e diretor do Centro de reprodução humana do IPGO (Instituto Paulista de Ginecologia e Obstetrícia), trilha sua carreira auxiliando casais na busca por um filho e durante toda a gestação. Formado pela Faculdade de Ciências Médicas da Santa casa de São Paulo e pós-graduado pela AAGL, Ilinos, EUA em Advance Laparoscopic Surgety. Membro-titular do Colégio Brasileiro de Cirurgiões, da Sociedade Brasileira de Cirurgia Laparoscópica, da European Society of Human Reproductive Medicine. É autor de diversos livros na área da reprodução humana como Fertilidade Natural (Ed. LaVida Press), Grávida Feliz, Obstetra Feliz (LaVida Press), Fertilização um ato de amor (LaVida Press), Manual da Gestante (Ed. Madras), Os Tratamentos de Fertilização e As Religiões (Ed. LaVida Press), Um Bebê e 2 Cegonhas” (Ed. La Vida Press). Criou também os sites: www.ipgo.com.brwww.fertilidadedohomem.com.brwww.fertilidadenatural.com.br, onde esclarece dúvidas e passa informações sobre a saúde feminina, especialmente sobre infertilidade. Apresenta seu trabalho em Congressos no exterior, o que confere a ele um reconhecimento internacional.




quinta-feira, 11 de junho de 2015

Digam o que acham do blog...

                           Boa noite pessoal!
Então gostaram do blog?
Deem sua opinião, ela é muito importante para nós.


domingo, 7 de junho de 2015

RESOLUÇÃO CFM Nº 2.013/2013


(Publicada no D.O.U. de 09 de maio de 2013, Seção I, p. 119)
Adota as normas éticas para a utilização das técnicas de reprodução assistida, anexas à presente resolução, como dispositivo deontológico a ser seguido pelos médicos e revoga a Resolução CFM nº 1.957/10.
O CONSELHO FEDERAL DE MEDICINA, no uso das atribuições conferidas pela Lei nº 3.268, de 30 de setembro de 1957, alterada pela Lei nº 11.000, de 15 de dezembro de 2004, regulamentada pelo Decreto nº 44.045, de 19 de julho de 1958, e Decreto n° 6.821, de 14 de abril de 2009, e
CONSIDERANDO a importância da infertilidade humana como um problema de saúde, com implicações médicas e psicológicas, e a legitimidade do anseio de superá-la;
CONSIDERANDO que o avanço do conhecimento científico já permite solucionar vários casos de problemas de reprodução humana;
CONSIDERANDO que o pleno do Supremo Tribunal Federal, na sessão de julgamento de 5.5.2011, reconheceu e qualificou como entidade familiar a união estável homoafetiva (ADI 4.277 e ADPF 132);
CONSIDERANDO a necessidade de harmonizar o uso destas técnicas com os princípios da ética médica;
CONSIDERANDO, finalmente, o decidido na sessão plenária do Conselho Federal de Medicina realizada em 16 de abril de 2013,
RESOLVE:
Art. 1º Adotar as normas éticas para a utilização das técnicas de reprodução assistida, anexas à presente resolução, como dispositivo deontológico a ser seguido pelos médicos.
Art. 2º Revoga-se a Resolução CFM nº 1.957/10, publicada no D.O.U. de 6 de janeiro de 2011, Seção I, p. 79, e demais disposições em contrário.
Art. 3º Esta resolução entra em vigor na data de sua publicação.
Brasília, 16 de abril de 2013.
ROBERTO LUIZ D’AVILA HENRIQUE BATISTA E SILVA
Presidente Secretário-geral
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NORMAS ÉTICAS PARA A UTILIZAÇÃO DAS TÉCNICAS DE
REPRODUÇÃO ASSISTIDA
I - PRINCÍPIOS GERAIS
1 - As técnicas de reprodução assistida (RA) têm o papel de auxiliar a resolução dos problemas de reprodução humana, facilitando o processo de procriação.
2 - As técnicas de RA podem ser utilizadas desde que exista probabilidade efetiva de sucesso e não se incorra em risco grave de saúde para a paciente ou o possível descendente, e a idade máxima das candidatas à gestação de RA é de 50 anos.
3 - O consentimento informado será obrigatório para todos os pacientes submetidos às técnicas de reprodução assistida. Os aspectos médicos envolvendo a totalidade das circunstâncias da aplicação de uma técnica de RA serão detalhadamente expostos, bem como os resultados obtidos naquela unidade de tratamento com a técnica proposta. As informações devem também atingir dados de caráter biológico, jurídico, ético e econômico. O documento de consentimento informado será elaborado em formulário especial e estará completo com a concordância, por escrito, das pessoas a serem submetidas às técnicas de reprodução assistida.
4 - As técnicas de RA não podem ser aplicadas com a intenção de selecionar o sexo (presença ou ausência de cromossomo Y) ou qualquer outra característica biológica do futuro filho, exceto quando se trate de evitar doenças ligadas ao sexo do filho que venha a nascer.
5 - É proibida a fecundação de oócitos humanos, com qualquer outra finalidade que não a procriação humana.
6 - O número máximo de oócitos e embriões a serem transferidos para a receptora não pode ser superior a quatro. Quanto ao número de embriões a serem transferidos faz-se as seguintes recomendações: a) mulheres com até 35 anos: até 2 embriões; b) mulheres
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entre 36 e 39 anos: até 3 embriões; c) mulheres entre 40 e 50 anos: até 4 embriões; d) nas situações de doação de óvulos e embriões, considera-se a idade da doadora no momento da coleta dos óvulos.
7 - Em caso de gravidez múltipla, decorrente do uso de técnicas de RA, é proibida a utilização de procedimentos que visem a redução embrionária.
II - PACIENTES DAS TÉCNICAS DE RA
1 - Todas as pessoas capazes, que tenham solicitado o procedimento e cuja indicação não se afaste dos limites desta resolução, podem ser receptoras das técnicas de RA desde que os participantes estejam de inteiro acordo e devidamente esclarecidos sobre a mesma, de acordo com a legislação vigente.
2 - É permitido o uso das técnicas de RA para relacionamentos homoafetivos e pessoas solteiras, respeitado o direito da objeção de consciência do médico.
III - REFERENTE ÀS CLÍNICAS, CENTROS OU SERVIÇOS QUE APLICAM TÉCNICAS DE RA
As clínicas, centros ou serviços que aplicam técnicas de RA são responsáveis pelo controle de doenças infectocontagiosas, coleta, manuseio, conservação, distribuição, transferência e descarte de material biológico humano para a paciente de técnicas de RA, devendo apresentar como requisitos mínimos:
1 - um diretor técnico responsável por todos os procedimentos médicos e laboratoriais executados, que será, obrigatoriamente, um médico registrado no Conselho Regional de Medicina de sua jurisdição;
2 - um registro permanente (obtido por meio de informações observadas ou relatadas por fonte competente) das gestações, nascimentos e malformações de fetos ou recém-nascidos, provenientes das diferentes técnicas de RA aplicadas na unidade em apreço, bem como dos procedimentos laboratoriais na manipulação de gametas e embriões;
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3 - um registro permanente das provas diagnósticas a que é submetido o material biológico humano que será transferido aos pacientes das técnicas de RA, com a finalidade precípua de evitar a transmissão de doenças;
4 - Os registros deverão estar disponíveis para fiscalização dos Conselhos Regionais de Medicina.
IV - DOAÇÃO DE GAMETAS OU EMBRIÕES
1 - A doação nunca terá caráter lucrativo ou comercial.
2 - Os doadores não devem conhecer a identidade dos receptores e vice-versa.
3 - A idade limite para a doação de gametas é de 35 anos para a mulher e 50 anos para o homem.
4 - Obrigatoriamente será mantido o sigilo sobre a identidade dos doadores de gametas e embriões, bem como dos receptores. Em situações especiais, as informações sobre doadores, por motivação médica, podem ser fornecidas exclusivamente para médicos, resguardando-se a identidade civil do doador.
5 - As clínicas, centros ou serviços que empregam a doação devem manter, de forma permanente, um registro de dados clínicos de caráter geral, características fenotípicas e uma amostra de material celular dos doadores, de acordo com a legislação vigente.
6 - Na região de localização da unidade, o registro dos nascimentos evitará que um(a) doador(a) tenha produzido mais que duas gestações de crianças de sexos diferentes, numa área de um milhão de habitantes.
7 - A escolha dos doadores é de responsabilidade da unidade. Dentro do possível, deverá garantir que o doador tenha a maior semelhança fenotípica e imunológica e a máxima possibilidade de compatibilidade com a receptora.
8 - Não será permitido ao médico responsável pelas clínicas, unidades ou serviços, nem aos integrantes da equipe multidisciplinar que nelas prestam serviços, participarem como doadores nos programas de RA.
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9 - É permitida a doação voluntária de gametas, bem como a situação identificada como doação compartilhada de oócitos em RA, onde doadora e receptora, participando como portadoras de problemas de reprodução, compartilham tanto do material biológico quanto dos custos financeiros que envolvem o procedimento de RA. A doadora tem preferência sobre o material biológico que será produzido.
V - CRIOPRESERVAÇÃO DE GAMETAS OU EMBRIÕES
1 - As clínicas, centros ou serviços podem criopreservar espermatozoides, óvulos e embriões e tecidos gonádicos.
2 - O número total de embriões produzidos em laboratório será comunicado aos pacientes, para que decidam quantos embriões serão transferidos a fresco, devendo os excedentes, viáveis, serem criopreservados.
3 - No momento da criopreservação os pacientes devem expressar sua vontade, por escrito, quanto ao destino que será dado aos embriões criopreservados, quer em caso de divórcio, doenças graves ou falecimento de um deles ou de ambos, e quando desejam doá-los.
4 - Os embriões criopreservados com mais de 5 (cinco) anos poderão ser descartados se esta for a vontade dos pacientes, e não apenas para pesquisas de células-tronco, conforme previsto na Lei de Biossegurança.
VI - DIAGNÓSTICO GENÉTICO PRÉ-IMPLANTAÇÃO DE EMBRIÕES
1 - As técnicas de RA podem ser utilizadas acopladas à seleção de embriões submetidos a diagnóstico de alterações genéticas causadoras de doenças.
2 - As técnicas de RA também podem ser utilizadas para tipagem do sistema HLA do embrião, com o intuito de seleção de embriões HLA-compatíveis com algum filho(a) do casal já afetado por doença, doença esta que tenha como modalidade de tratamento efetivo o transplante de células-tronco ou de órgãos.
3 - O tempo máximo de desenvolvimento de embriões "in vitro" será de 14 dias.
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VII - SOBRE A GESTAÇÃO DE SUBSTITUIÇÃO (DOAÇÃO TEMPORÁRIA DO ÚTERO)
As clínicas, centros ou serviços de reprodução humana podem usar técnicas de RA para criarem a situação identificada como gestação de substituição, desde que exista um problema médico que impeça ou contraindique a gestação na doadora genética ou em caso de união homoafetiva.
1 - As doadoras temporárias do útero devem pertencer à família de um dos parceiros num parentesco consanguíneo até o quarto grau (primeiro grau – mãe; segundo grau – irmã/avó; terceiro grau – tia; quarto grau – prima), em todos os casos respeitada a idade limite de até 50 anos.
2 - A doação temporária do útero não poderá ter caráter lucrativo ou comercial.
3 - Nas clínicas de reprodução os seguintes documentos e observações deverão constar no prontuário do paciente:
- Termo de Consentimento Informado assinado pelos pacientes (pais genéticos) e pela doadora temporária do útero, consignado. Obs.: gestação compartilhada entre homoafetivos onde não existe infertilidade;
- relatório médico com o perfil psicológico, atestando adequação clínica e emocional da doadora temporária do útero;
- descrição pelo médico assistente, pormenorizada e por escrito, dos aspectos médicos envolvendo todas as circunstâncias da aplicação de uma técnica de RA, com dados de caráter biológico, jurídico, ético e econômico, bem como os resultados obtidos naquela unidade de tratamento com a técnica proposta;
- contrato entre os pacientes (pais genéticos) e a doadora temporária do útero (que recebeu o embrião em seu útero e deu à luz), estabelecendo claramente a questão da filiação da criança;
- os aspectos biopsicossociais envolvidos no ciclo gravídico-puerperal;
- os riscos inerentes à maternidade;
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- a impossibilidade de interrupção da gravidez após iniciado o processo gestacional, salvo em casos previstos em lei ou autorizados judicialmente;
- a garantia de tratamento e acompanhamento médico, inclusive por equipes multidisciplinares, se necessário, à mãe que doará temporariamente o útero, até o puerpério;
- a garantia do registro civil da criança pelos pacientes (pais genéticos), devendo esta documentação ser providenciada durante a gravidez;
- se a doadora temporária do útero for casada ou viver em união estável, deverá apresentar, por escrito, a aprovação do cônjuge ou companheiro.
VIII - REPRODUÇÃO ASSISTIDA POST-MORTEM
É possível desde que haja autorização prévia específica do(a) falecido(a) para o uso do material biológico criopreservado, de acordo com a legislação vigente.
IX - DISPOSIÇÃO FINAL
Casos de exceção, não previstos nesta resolução, dependerão da autorização do Conselho Regional de Medicina.
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EXPOSIÇÃO DE MOTIVOS DA RESOLUÇÃO CFM nº 2.013/13
No Brasil, até a presente data não há legislação específica a respeito da reprodução assistida. Transitam no Congresso Nacional, há anos, diversos projetos a respeito do assunto, mas nenhum deles chegou a termo.
Considerando as dificuldades relativas ao assunto, o Conselho Federal de Medicina produziu uma resolução – Resolução CFM nº 1.957/10 – orientadora dos médicos quanto às condutas a serem adotadas diante dos problemas decorrentes da prática da reprodução assistida, normatizando as condutas éticas a serem obedecidas no exercício das técnicas de reprodução assistida.
A Resolução CFM nº 1.957/10 mostrou-se satisfatória e eficaz, balizando o controle dos processos de fertilização assistida. No entanto, as mudanças sociais e a constante e rápida evolução científica nessa área tornaram necessária a sua revisão.
Uma insistente e reiterada solicitação das clínicas de fertilidade de todo o país foi a abordagem sobre o descarte de embriões congelados, alguns até com mais de 20 (vinte) anos, em abandono e entulhando os serviços. A comissão revisora observou que a Lei de Biossegurança (Lei no 11.105/05), em seu artigo 5º, inciso II, já autorizava o descarte de embriões congelados há 3 (três) anos, contados a partir da data do congelamento, para uso em pesquisas sobre células- tronco. A proposta é ampliar o prazo para 5 (cinco) anos, e não só para pesquisas sobre células-tronco.
Outros fatores motivadores foram a falta de limite de idade para o uso das técnicas e o excessivo número de mulheres com baixa probabilidade de gravidez devido à idade, que necessitam a recepção de óvulos doados.
Esses aspectos geraram dúvidas crescentes oriundas dos Conselhos Regionais de Medicina, provocando a necessidade de atualizações.
O somatório dos fatores acima citados foi estudado pela comissão, em conjunto com representantes da Sociedade Brasileira de Reprodução Assistida, da Federação Brasileira das Sociedades de Ginecologia e Obstetrícia e da Sociedade Brasileira de Reprodução Humana e Sociedade Brasileira de Genética Médica, sob a coordenação do conselheiro federal José Hiran da Silva Gallo.
Esta é a visão da comissão formada, que trazemos à consideração do plenário do Conselho Federal de Medicina.
Brasília-DF, 16 de abril de 2013.
JOSÉ HIRAN DA SILVA GALLO

Coordenador da Comissão de Revisão da Resolução CFM nº 1.358/92 – Reprodução Assistida

Luto no pós-parto

Luto no pós-parto

(Texto originalmente publicado no Jornal Zero Hora.)  
"Eu sabia que tinha que atravessar aquele deserto só meu"

Jornalista Camila Goytacaz narra a expectativa na gestação e o choque com a morte do bebê de 11 dias no livro "Até Breve, José"


Depois de uma gestação saudável, dentro das expectativas, Camila Goytacaz teve de acomodar o impensável no espaço reservado ao segundo filho. Nascido em março de 2011, o bebê viveu apenas 11 dias. O livro Até Breve, José, um relato tocante da expectativa da gestação, do drama da internação na UTI e do choque da mãe que acaba de parir e depara com a morte, é uma tentativa de eternizar a lembrança e, principalmente, amparar outras mães.

Em um texto belíssimo, sem revelar o que levou José ao óbito, a jornalista paulistana narra o que chama de “a travessia do deserto do luto”.

– O importante não é a causa da morte da criança, é o que aconteceu com essa mãe depois. Queria contar o que é esse processo, a dor da perda, o buraco que ela deixa, por que a gente tem tanto medo, o que ela faz na nossa vida, como vai embora – conta Camila, 37 anos, em entrevista concedida por telefone de Ubatuba (SP), onde vive com o marido e os outros dois filhos, de seis e três anos.


Você teve uma experiência de morte muito próxima do nascimento, quando o seu corpo ainda tinha sinais claríssimos do período pós-parto. Como foi assimilar tudo isso?O mais dolorido é isso: a gravidez é muito pública. Todo mundo sabe que você está grávida. No final da gestação ou logo depois que saiu da barriga, tem essa coisa evidente de “sumiu a barriga, então cadê o bebê?”. Essas perguntas vêm com muita frequência, de estranhos e de conhecidos. Você não se encontra: não sou mais aquela que eu era antes, não sou mais aquela grávida rechonchuda, quem sou eu? Para a mulher no puerpério (período pós-parto), somado ao momento da perda, do luto, é muito duro. Ela tem tudo que a puérpera tem, o leite, a nova forma do corpo, mas não tem o bebê. É uma incerteza, um grande vazio, um buraco. E você tem que viver a vida, sair na rua e falar: “O bebê morreu”.

Você se viu confrontada com essa situação muitas vezes?Muitas. Eu ficava pensando: “Tomara que não seja eu que tenha que dar a notícia para essa pessoa. Tomara que alguém já tenha contado”. Esperava que elas já soubessem por alguém, me poupassem da pergunta. Esses primeiros dias, que para a mãe com bebê são tão gostosos, para a mãe que perdeu são muito doloridos. Acho que todos os lutos são muito solitários, mas o nosso é mais particular ainda. Nascimento e morte são muito próximos. É o impensável.

As pessoas, em geral, não sabem, não querem ou não conseguem falar sobre a morte e o luto. Você tinha vontade de falar sobre o José? São dois extremos. Tem a turma que não fala, que não reconhece que aquilo aconteceu, “vamos continuar conversando normalmente e fingir que a gente não sabe”. Isso machuca demais. Você está vivendo em um buraco tão grande, é uma dor tão profunda, como é que elas podem continuar falando sobre amenidades? Eu buscava meu filho na escolinha e ninguém falava comigo, as mães se dissipavam. A diretora falou: “Pode ficar tranquila que a gente vai fingir que nada aconteceu”. E tem o outro extremo, o das pessoas que querem falar, não sabem o que dizer e falam coisas que também machucam: “Foi melhor assim”, “Imagina você ter um filho com problemas”, “Você pode ter outro filho.” Não é um sapato, é uma criança, é muito profundo para a gente simplificar. “Imagina se vivesse muito, aí você se apega e morre com dois, três anos.” Isso não ajuda. O que ajuda de verdade é o que vem do coração, um abraço.

Você usa uma expressão interessante, a “travessia do deserto do luto”. Eu pensava: “Só aconteceu comigo? Não é possível. Será que sou a única? Não pode ser”. Eu estava num grupo virtual de 800 mães, não era possível que só o meu bebê tivesse morrido. Aí veio o lado jornalista, de querer apurar, comecei a ir atrás dessas pessoas, trocar experiências, e-mails, falar por telefone. Eram pessoas que eu não conhecia, mas se dispuseram a essa troca. E depois eu comecei a oferecer isso para outras. A travessia é muito solitária, um processo só meu, ninguém vai entender, por mais que queira. Mas outra mãe que viveu a mesma coisa me faz sentir menos sozinha. Aí comecei a sentir vontade de publicar. Eu sabia que tinha que atravessar aquele deserto só meu. As pessoas diziam que eu tinha que tomar um remedinho, somos a sociedade do remedinho. Eu queria sentir tudo mesmo, queria fazer a travessia, chegar um ano depois e dizer: vivi o processo, está resolvido, está acomodado.

Seu primogênito, Pedro, com dois anos e meio, esperava ansioso pelo irmão. Aguardava-o na janela, achando que o bebê tocaria a campainha. Como foi explicar para ele tudo que aconteceu?Ele conseguia fazer as perguntas de uma criança de dois anos e meio. Um ano depois, a pergunta estava mais incrementada. Agora ele tem seis e meio e faz perguntas elaboradas. Aquela história de que o José mora numa nuvem satisfazia quando ele tinha três anos. Agora ele quer saber: “Onde é essa nuvem? Quem está lá com ele? O que eles fazem? Por que ele morreu e eu não?” Quando a Joana nasceu, ele a ensinava a respirar, achava que a qualquer momento ela poderia morrer também. A criança mistura a realidade e a fantasia. O Pedro achava que o José ia voltar. Teve um Natal em que ele disse que não queria presente, queria que trouxessem o irmão de volta. Eu tentava ser o mais franca possível, nem sempre conseguia. Ele se compadecia muito. Por outro lado, era ele que me salvava também. Ele me chamava para brincar. “Tá bom, mamãe. Depois você chora, agora vamos brincar.”

A gestação da Joana veio três meses depois da morte de José. Qual foi o sentimento?Foi um susto. Fiz um esforço e pensei: cada filho é um filho, essa história é da Joana. O que eu vou viver nessa gravidez é dela. Fui até o final sentindo isso. Tinha medo? Morria de medo. Na véspera do dia em que ela nasceu, chorei um pouco pelo José, me abalei. Tem altos e baixos. As pessoas têm uma ilusão de que o processo do luto é linear. Lembro de uma vez que achei que estava ótima e encontrei uma pessoa que fazia ioga para gestantes comigo. Ela estava com o bebê, que seria da idade do meu, e falou: “Nossa, você já está deixando o seu em casa, tão pequenininho?” Aquilo pegou tão fundo que falei: “É, estou deixando”. Não tive coragem, sustentei a mentira. Fui para baixo de novo, depois voltei a subir. Mas no dia do parto dela me lembro que não tinha espaço para o José, era o momento dela, de me conectar com ela. Hoje me sinto mais forte, sinto que sou uma mãe para a Joana muito mais corajosa do que fui para o Pedro, porque entre os dois passei por essa perda.

Quem perde um filho tem menos medo da vida? Não, tem menos medo da morte. Da vida não. A mãe que passa por isso já conhece um pouco a morte, já fez um contato com ela, então desmistifica um pouco. Claro que num primeiro momento não. Tinha muito medo de que acontecesse alguma coisa com o Pedro, estava traumatizada. Uma pequena queda em casa e eu já fiquei devastada, mas racionalmente fui criando uma casca. A mãe que passa por isso encara com mais naturalidade os percalços da vida porque a gente sabe que vai dar conta. E também se abala menos com problemas que não são problemas.

Redimensiona as coisas.Ave, Maria! Eu via as minhas amigas sofrendo: “Ai, o meu bebê só quer colo”. Eu falava: “Você deveria dar graças a Deus porque o seu bebê está aí e só quer colo. O problema é o bebê que está lá na UTI e a mãe nunca pode pegar no colo”. Comecei a valorizar pequenos momentos, pequenas coisas tão preciosas. É muito louco o que vou te falar agora, mas me sinto mais feliz hoje, mais completa, por ter perdido o José. Não é que eu esteja feliz por ter perdido um filho, jamais. Mas por ter perdido um filho hoje eu vivo de uma maneira mais aqui e agora, mais presente, mais grata ao que ficou, ao que eu tenho.

Depois do período de um ano de luto, a sua felicidade tinha alguma parcela de culpa?A gente lida mal com os processos de perda. Se você fica muito tempo sofrendo, o povo olha e diz: “Nossa, você ainda está nessa? Faz seis meses, pelo amor de Deus, sai dessa, toma um antidepressivo”. Se é rápido, se você está se divertindo: “Nossa, mas você já saiu do luto?”. Não tem um tempo certo. Eu me sentia culpada, sentia vergonha de estar me divertindo com meu filho, de estar namorando com o meu marido. É ser feliz e ser triste ao mesmo tempo, são processos que coexistem.

Como o José está presente na vida da família?Nas brincadeiras, nas fantasias, nas histórias do cotidiano. Faz parte da história deles (Pedro e Joana). Eles usam um chapeuzinho de praia de pano que seria do José. Os dois falam: “Hoje sou eu que vou usar o chapéu do José!” É um objeto de uma criança que nunca existiu na vida deles, mas para eles é uma entidade presente. Às vezes surge um amiguinho com o mesmo nome: “Mamãe, ele se chama José, igual ao meu irmão que foi para o céu”. Acho que isso é o mais legal: encontrar um jeito de essa história ficar na família toda a vida.

Quem era a mãe lá do começo e quem é a mãe de hoje? Eu me via naquela perfeição, “tudo vai dar certo, tudo está redondinho, mamãe, papai e filhinho”. Quando perdi o José, me caiu essa ficha de que não existe esse cenário idealizado, existe a vida de verdade, que tem tragédias, acidentes, mortes, perdas, e a gente é feliz com isso e apesar disso. O José ter morrido foi só um dos possíveis desfechos na minha vida. Estar vivo é isso, é lidar com essa fragilidade. A mãe de agora é essa mãe mais real. Me permito ser mais imperfeita. Planejar é só uma intenção, uma expectativa, não é nenhuma garantia de que vai acontecer.
A qualquer momento tudo pode mudar.

Trecho do livro "Até Breve, José"
Pode ir, José
16 de março de 2011

Às seis da tarde, ele partiu. Foi acompanhado por mim e pelo pai. Batizado ali mesmo, morreu no meu colo, com minha mão sob seu peito, eu sentindo cada batida do seu coração, o pai segurando sua mãozinha. Foi com muito respeito, dignidade e amor. Fui conversando com ele, falando coisas boas.
Pode descansar, José, aqui no colo da sua mãe. Com a mesma energia que chegou, José foi embora. Ele me contou que estava cansado. Disse pelos seus poros, pela pele.
Tivemos o privilégio de nos despedir do nosso filho com privacidade, calma e tranquilidade. Nunca dei um banho nem troquei uma fralda. Dar colo na hora de sua partida foi o melhor que pude fazer. Eu mesma tirei o respirador, os esparadrapos, coloquei sua roupinha. Nosso adeus foi um parto às avessas.
Tenho que continuar respirando, comendo, dormindo, pensando, mesmo sem ter a menor vontade.
Lufe se segura em mim, eu nele, e
assim a gente fica em pé por um
pouco mais de tempo.
Nem bem aceitei que ele nasceu e ele já morreu, é tão estranho. Acredito que encontrarei José de novo, em algum momento, em algum lugar. Para sempre vou amá-lo. Ir ao enterro do meu filho
hoje foi a coisa mais difícil que fiz na vida.
Viver depois disso será a segunda
coisa mais difícil.
Hoje eu tinha de escrever esta carta
de adeus.
Pode ir, José. porque eu te amo, agora e sempre.


sexta-feira, 5 de junho de 2015

Culpa e luto

A perda de um filho é, provavelmente, uma das piores experiências que alguém pode enfrentar, e praticamente todo mundo reconhece isso como uma verdade. Mães e pais que perderam seus filhos recebem todo tipo de conforto e apoio, sua dor é compreendida pela sociedade como uma dor legítima.
Mas e quem perde um filho antes do nascimento, ou logo após? Para quem nunca viveu isso, parece que é uma dor menor, superável, pois afinal aquele ser nem chegou a existir.
Só quem passou por isso sabe o quanto é dolorido, triste e solitário passar por uma perda gestacional, ou perder um bebê logo após o parto. Muitas pessoas chegam a ser insensíveis, mesmo tentando ajudar: nos dizem que somos jovens e podemos tentar de novo, ou que já passamos da idade ideal para ter filhos e deveríamos ter pensado nos riscos; que provavelmente aquele bebê teria problemas graves de saúde, ou ainda que foi uma escolha de Deus. Provavelmente tudo isso é verdade, mas é o pior a se dizer no momento em que a pessoa está vivendo sozinha uma dor enorme, e possivelmente se culpando por não ter conseguido ter aquela criança. Por que tomei aquela dose de vinho? Por que não parei a ginástica? Por que não percebi a gestação antes? Por que tomei aquele medicamento? São infinitos “porquês” que enchem a cabeça da mãe de culpa.

Quando é que as pessoas vão se tornar mais sensíveis ao luto da perda gestacional?