segunda-feira, 20 de junho de 2016

Psicóloga do DF faz inseminação artificial e 'ganha' família internacional

http://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias/2016/06/19/psicologa-do-df-faz-inseminacao-artificial-e-ganha-familia-internacional.htm

Psicóloga do DF faz inseminação artificial e 'ganha' família internacional
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Jéssica Nascimento
Colaboração para o UOL, em Brasília

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  • Arquivo pessoal
    A psicóloga Bárbara Lino e a filha Helena
    A psicóloga Bárbara Lino e a filha Helena
Uma psicóloga de Brasília optou por ter um filho por meio de inseminação artificial, mas não imaginava que, com o procedimento, uma família completa, com parentes de várias nacionalidades, surgiria a partir de então. Bárbara Lino, de 35 anos, é mãe da pequena Helena, de quatro anos. A questão é que o mesmo material genético foi comprado por outras mães espalhadas pelo mundo. De repente, Bárbara e Helena descobriram que a menina tinha quatro irmãos em outros países - na Nigéria, Bulgária, Alemanha e Estados Unidos.
Bárbara conta que uma doença, a endometriose, foi a "responsável" pela escolha por uma inseminação artificial. A moradora da área Sudoeste, que fica a 8 quilômetros do centro de Brasília, realizou o procedimento nos Estados Unidos. "Eu tenho o estágio quatro da doença, um dos mais graves. Essa condição, muitas vezes, deixa a mulher estéril."
Endometriose é uma condição na qual o endométrio, mucosa que reveste a parede interna do útero, cresce em outras regiões do corpo. Essa formação de tecido normalmente ocorre na região pélvica, fora do útero, nos ovários, no intestino, no reto, na bexiga e na delicada membrana que reveste a pélvis, na maioria dos casos.
A psicóloga conta que durante um ano fez o tratamento contra a endometriose com um remédio que combate o câncer. As dores diminuíram e a chance de ser mãe foi alertada pelo médico. "Ele me disse que, se eu quisesse ter um filho, aquela era a hora. Mesmo não sendo casada, optei pela decisão. Desde o início, sempre quis um doador não anônimo. Afinal, a criança tem o direito de saber de onde veio e com quem se parece."
Após a decisão, Bárbara pesquisou durante um mês na internet, quem seria o pai de Helena e onde faria o procedimento de inseminação artificial. Em apenas uma tentativa, a psicóloga conseguiu realizar o sonho de ser mãe. Após o nascimento, cadastrou-se em um site norte-americano de doadores de esperma, The Donor Sibling Registry. Lá, foi constatado que a criança já tinha alguns irmãos.
"Paguei cerca de US$ 90 (cerca de R$ 350) para me inscrever. Nos Estados Unidos, há a recomendado de que as mães cadastrem seus filhos no site. O objetivo é que nenhuma criança venha a namorar algum irmão na vida adulta, por exemplo", diz Bárbara.
Segundo a psicóloga, o doador é cadastrado por um número e nome fictício. "Quando outra mãe cadastra o filho com o mesmo doador, você recebe um e-mail informando sobre o parentesco. A partir dali, decidimos se queremos manter ou não contato."
Arquivo pessoal
Helena, filha de Bárbara Lino, com Chidera Iowa, sua irmã norte-americana, e a mãe desta, Juliet

Encontros

Bárbara e Helena já se encontraram com as mães e irmãos duas vezes, uma em Washington, a capital dos Estados Unidos, e outra em uma cidade do Estado do Texas. Cada viagem é uma emoção, segundo Bárbara.
"Eles se amam, brincam e respeitam como irmãos. A internet ajuda bastante, né? Conversamos por Skype e Facebook. A Helena, por exemplo, sabe que a irmãzinha dança balé e sempre pergunta sobre as apresentações", explica a psicóloga.
Segundo Juliet Morah, moradora de Washington e mãe de Chidera Iowa - uma das irmãs mais próximas de Helena -, o relacionamento com as mães é "maravilhoso e surpreendente". Para ela, todas as almas da família estão envolvidas. "Nossos filhos se parecem na personalidade e aparência. Essa nossa família é muito importante, tanto para nós mães, quanto para as crianças", diz ela, que trabalha no Exército dos Estados Unidos.
Para Bárbara, a própria filha é quem decidirá se pretende conhecer o pai biológico. O pai disponibilizou uma carta ressaltando que pode conhecer os filhos quando estes alcançarem a vida adulta. A carta foi fornecida pela agência European Cryobank. "Helena já perguntou sobre o pai quando era bem novinha. Eu disse que nossa família era mamãezinha e filhinha e que cada família é diferente. O que importa realmente são o amor e união que construímos juntas".
Arquivo pessoal
Helena (centro) com os irmãos norte-americanos, Chidera (esq.) e Liam

sábado, 18 de junho de 2016

Livro traz experiência com barriga de aluguel

http://estilo.uol.com.br/gravidez-e-filhos/noticias/agencia-estado/2016/06/18/livro-traz-experiencia-com-barriga-de-aluguel.htm


Livro traz experiência com barriga de aluguel


Shutterstock

 
Dizem que curiosidade mata. Neste caso, ajudou a nascer. Foi muito por curiosidade que a jornalista Teté Ribeiro quis ser mãe: "Não tem como saber o que é, a não ser vivendo". Foi também por curiosidade que ela quis conhecer a barriga de aluguel de suas filhas: "Queria descobrir de que lugar físico vinham meus bebês, quem lhes deu à luz". Entre uma inquietação e outra, surgiu o livro Minhas Duas Meninas (Companhia das Letras, R$ 39,90), que será lançado em 12 de julho.
Teté Ribeiro é editora da revista Serafina, da Folha de S.Paulo. Por sete anos, ela e o marido, Sérgio Dávila, editor executivo do jornal, tentaram engravidar por métodos caros e invasivos, alguns com técnicas experimentais. A questão era que os óvulos dela tinham boa qualidade, mas o útero carecia de aderência. Cansados do "purgatório da infertilidade", entraram com a papelada para a adoção. Em 2013, a tal curiosidade de Teté foi aguçada pelas barrigas de aluguel da Índia, onde a prática é legalizada desde 2002.
O casal entrou em contato com a Dra. Nayana Patel, dona de uma clínica em Anand, 90 km ao sul de Ahmedabad, ex-capital da Índia. A médica é famosa: já saiu com destaque em matérias da BBC e da Forbes. Por intermédio da Dra. Nayana, mais de 1 mil bebês vieram ao mundo via "gravidez por substituição". Os candidatos a pais chegam da própria Índia e de vários cantos do mundo, distribuídos mais ou menos na seguinte proporção: 40% locais, 30% indianos que vivem em outros países e 30% estrangeiros.
Espera
Teté e Sérgio entraram na lista de espera, interessados na estrutura do lugar, na tecnologia avançada e no valor mais em conta que em alguns Estados americanos, na Tailândia e no México, onde a prática também é permitida. No total, pagariam US$ 25 mil. Se a gravidez fosse gemelar, a quantia subia para US$ 31,5 mil. Somente mulheres casadas, entre 21 e 45 anos, e que tenham pelo menos um filho podem colocar sua barriga à disposição. Vanita, a escolhida pela dra. Nayana, tinha 28 anos à época e um filho, Aarav, de 5.
O maior dilema - a mãe de aluguel se arrepender e decidir ficar com o bebê - é resolvido por um contrato. Ela não tem nenhum direito sobre a criança, que ganha a nacionalidade dos pais biológicos. "A legislação indiana e a brasileira, até este momento, têm um encaixe perfeito para as barrigas de aluguel", escreve Teté. "A maior preocupação do governo da Índia é que Rita e Cecília não sejam cidadãs indianas; a do Brasil é que não tenham dupla cidadania."
Informações. O que não se encaixou tão perfeitamente foi o jeito indiano de editar e divulgar as informações. É compreensível que, por lei, os obstetras indianos não possam revelar o sexo dos bebês durante a gravidez. Entre a classe média e média baixa do país, é comum o aborto provocado quando se sabe que uma menina está abrigada no útero.
Acontece que, crente de que acompanharia o parto, Teté chegou um mês antes do previsto. Só no dia seguinte soube que suas crianças estavam "um pouquinho nascidas". A cesárea tinha acontecido três dias antes. Rita e Cecília estavam bem, precisavam apenas engordar até os 3 quilos, quando ganhariam o selo "fit to fly", prontas para voar de volta. Não era por isso que lhe negaram um e-mail ou um telefonema avisando do nascimento. "Para aqueles indianos com quem convivi, a versão contada é aquela que eles supõem que você deva saber."
Teté quer que suas filhas conheçam todo o processo. O casal fez um álbum com as fotos do primeiro mês de vida na Índia e o deixa à mão das garotas. "Elas têm só 2 anos, ainda são pequenas para formular qualquer pergunta, vou deixar que a curiosidade delas guie a informação."
Em tempo: Teté troca fotos das crianças com Vanita por WhatsApp. Com o dinheiro que lhe coube na oferta da barriga, US$ 8 mil, a indiana pagou dívidas. A família, porém, continua em dificuldade. Vanita não pode ser mãe de aluguel de novo, já que fez duas cesarianas. Quer ser cuidadora em Israel, de idosos ou bebês. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

terça-feira, 14 de junho de 2016

Terapia especializada em 'luto complicado' ganha espaço no país

http://www1.folha.uol.com.br/equilibrioesaude/2016/06/1781223-terapia-especializada-em-luto-complicado-ganha-espaco-no-pais.shtml

Terapia especializada em 'luto complicado' ganha espaço no país

Moacyr Lopes Junior/Folhapress
A publicitária Rita Almeida, que perdeu um filho e criou o site "Vamos falar sobre o luto"
A publicitária Rita Almeida, que perdeu um filho e criou o site "Vamos falar sobre o luto"

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Há sete anos, a publicitária Mariane Maciel, 38, estava se recuperando da perda da mãe, vítima de um câncer havia poucos meses, quando teve sua vida transformada mais uma vez. Seu noivo, Leo, estava entre os 228 passageiros do avião da AirFrance que caiu na costa brasileira.
Ele tinha vindo da França, onde fazia um doutorado, para formalizar o pedido de casamento a Mariane.
As duas perdas consecutivas fizeram com que a publicitária procurasse uma terapia de luto –especialidade da psicologia que visa ajudar a pessoa a processar sua perda. A modalidade, dizem especialistas, cresce no Brasil.
"Quando comecei a trabalhar com isso, ouvia piadinhas. As pessoas me perguntavam: mas luto não é normal? Pode ser ou pode não ser", diz a psicóloga Maria Helena Franco, criadora, há 20 anos, do Laboratório de Estudos do Luto na PUC-SP.
"Tínhamos poucos pacientes no começo. Hoje, temos lista de espera", diz.
No caso de Mariane, foram cinco meses de terapia de luto. Primeiro, com dois encontros na semana; depois, um. Ela procurou a clínica de psicologia especializada Quatro Estações, em São Paulo.
Nas sessões, fazia exercícios, recebia indicações de leitura e falava bastante.
"Aos 30 anos, meus amigos ainda não tinham lidado com perdas como as minhas", diz a publicitária. "Você se vê sozinho e pressionado para ficar bem logo."
Não é todo enlutado, porém, que "precisa" da terapia de luto. Quem perdeu seus entes de maneira repentina ou em situação de violência pode se beneficiar mais da abordagem. Pode ser o caso também de quem sofre o chamado luto complicado –o antigo "luto patológico".
Segundo Luciana Mazorra, especialista no atendimento a enlutados da Quatro Estações, o luto é uma oscilação entre o sofrimento da perda com momentos em que a pessoa segue a vida. "Quando o indivíduo fica preso no sofrimento e não consegue seguir a vida, o luto é complicado."
A proposta do terapeuta varia de acordo com o caso. Um dos exercícios envolve a criação de uma caixa de lembranças da pessoa que morreu, conta Luciana. Mas, para quem se sente desconfortável, há outras propostas.
A também publicitária Rita Almeida, 56, fez terapia de luto e terapia convencional –que já fazia antes– após a morte de seu filho, Paulo, 28, há quatro anos. Ela recebeu a notícia pelo telefone. O filho estava trabalhando em Londres. "As pessoas não querem falar sobre morte", diz. "A terapia de luto me ajudou a entender o que eu estava sentindo. Você descobre formas de conviver com a dor."
O luto das mães também é bastante valorizado –incluindo a perda gestacional.
"Haverá momentos de muita tristeza ao longo da vida", diz Ana Beatriz dos Santos, psicóloga do HC da USP e membro do Laboratório de Estudos sobre a Morte da USP.
Mães que perderam seus filhos costumam ser ativas em grupos de ajuda. Rita ajudou a criar o "Vamos falar sobre o luto", site que reúne histórias de enlutados e é comandado por sete amigas com diferentes experiências –incluindo Mariane.
"Há uma espécie de cerco do silêncio. Quem sofre, quem está doente ou por perto evita falar sobre o assunto", diz Ana Beatriz. Para quem está convivendo com enlutados, a indicação é estar por perto e ouvir sempre que a pessoa quiser falar a respeito.
luto