domingo, 3 de setembro de 2017

15 anos do Unidas Pela Dor

                  15 anos do Unidas Pela Dor

Meu filho (a), estaria este mês com 14 anos.
No dia 04.09.2002, eu era a mulher mais destroçada da face da terra, pois perdia meu segundo bebe.
Relembrar a data da criação do Unidas é relembrar também desta minha perda.
Da perda  surgiu um grupo lindo, nele ganhei  amigas que são amigas até hoje e serão por toda minha vida.
Fiz da dor uma forma de luta, e a passividade da primeira perda foi abolida. Levantei várias bandeiras após tanta dor.
Mas nunca, em nenhum momento da minha vida deixei de pensar em meus filhos perdidos nestes abortos.
A mãe não esquece seus filhos, mesmo aqueles a quem lhe foi negado o direito de parir, amamentar, acalentar, cuidar. Sempre ficará a curiosidade em saber como seriam,  a cor dos olhos, da pele, dos cabelos, como seria sua voz.
Mas o que é o Unidas Pela Dor?
Quando tive minha primeira perda em 2001, me senti absolutamente sozinha com minha dor, ouvia das pessoas próximas a mim:-
- Foi melhor assim, pois ele teria problemas.
- Reze.
- Você já tem idade, é mais difícil.
- Tenta de novo.
- Você sozinha ia ser difícil criar.
E outras atrocidades de pessoas que me amam, mas que desconhecem o tamanho da dor de sofrer um aborto espontâneo.
A dor da perda não é só a dor física, esta tiramos de letra, a dor é na alma!
Dor na Alma não tem cura. 
A internet foi o meio encontrado para buscar socorro, mas aqui no Brasil só havia o site do Uol – Guia do Bebê, onde havia uma pagina sobre perda, foi ali que a Neyla me achou. E foi ela a primeira pessoa a me acudir e a me carregar no colo.
 Com ela descobri um grupo americano, o Hygeia, onde havia uma pagina em português, que uma amiga solicitou ao medico americano a pagina.
 Neste grupo conheci amigas que são amigas até hoje, e juntas nos ajudamos e fomos ajudando as que chegavam.
Deste grupo, a Nara criou um grupo no Brasil, o Apoio Mãe, que mais tarde ela deixou para a Neyla gerenciar e cuidar.
Eu lutando por uma nova gravidez, voltei a perder e novamente a dor.
Do Apoio Mãe ao Unidas foi um pulo, o grupo foi criado então no Yahoo em 04.09.2002, no meio das minhas curetagens, pois tive que fazer duas. Ele veio de encontro a formar um grupo com pessoas com pensamentos afins, e muita vontade de ajudar e precisando ser ajudada.
Nós juntas movimentávamos a internet e a vida das pessoas, a idéia era que as pessoas entendessem e respeitassem  a dor da perda, pois a perda  em abortos não era considerado perda de filho.
Íamos as TVS, revistas, Jornais.
Fazíamos contatos com médicos de Reprodução Assistida, montamos sites, blogs, tudo em nome da causa. Conseguimos até que o Ministro da Saúde da época recebesse um Abaixo Assinado, onde pedíamos que o SUS assumisse os tratamentos de Infertilidade.
Fomos guerreiras e pioneiras.
Hoje o grupo ainda esta ativo, mas a ferramenta oferecida  pelo Yahoo, foi por este considerado obsoleto e deixou de ser atualizado, perdemos assim uma forma de comunicação maravilhosa.
A rede social evoluiu para o Facebook, antes para o Orkut, e o Unidas foi ficando pra trás, mas as vitórias foram acontecendo no dia a dia das mães do grupo.
Muitas engravidaram novamente, uma, duas, até três vezes, outras adotaram, outras desistiram e se afastaram, mas a grande maioria realizou seu sonho de ter um filho vivo nos braços.
E o grupo virou então o Mães do Unidas, uma forma de não magoar aquelas que estavam chegando da perda e podermos falar abertamente sobre nossos filhos.
Hoje o assunto beira o futuro profissional de nossos filhos.
Sim nossos, pois eu também tive meus filhos, sendo que tenho um gêmeo sobrevivente  que é a paixão da minha vida.
Sim...sim..nada é perfeito e tive que aceitar a perda de minha filha Dandy, após quatro anos de luta para engravidar novamente.
A dor voltou, e veio junto com a alegria de ter meu filho nos braços, meu Ricardinho.
Sentimentos díspares demais para uma mãe.
E o tempo foi passando e chegamos afinal ao dia 04.09.2017, 15 anos de Unidas, que seguem unidas.
Oportunidade então para agradecer a cada uma que fez ou faz parte desta história, pela  amizade, carinho, companheirismo, pelas lágrimas a cada nascimento/adoção, pela felicidade no compartilhamento da gravidez sonhada e desejada.
Quinze anos teriam muitos de nossos filhos, mas estamos juntas, sempre e Unidas.
Beijos a todas. E que venham muito mais anos conosco juntas e unidas como sempre fomos.
Odete dos Santos
03.09.2017

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